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Qual a dificuldade da criança quando se brinca muito com brinquedos eletrônicos?

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Estes dias tive a oportunidade de participar de uma rica discussão com educadores e lideranças locais  de uma pequena cidade no interior de São Paulo. Depois de passar um vídeo com crianças brincando e pedir para os participantes do encontro formularem perguntas sobre o que mais chama a atenção quando observam crianças brincando, uma instigante pergunta veio à tona:

” Qual a dificuldade da criança quando se brinca muito com brinquedos eletrônicos?”

Quando pensamos como adultos, com uma consciência já formada sobre as coisas e a capacidade de refletir sobre as informações, ficamos maravilhados com as potencialidades que a internet e as novas tecnologias nos possibilitam.

Do ponto de vista de uma escritora, e me coloco nesta história, um exemplo claro das maravilhas das novas tecnologias é a possibilidade de compartilhar ideias sobre uma temática que várias pessoas terão contato e conseguirão interagir concordando ou não conosco. Neste contexto, somos protagonistas da nossa própria história, registrando o nosso ponto de vista sobre as coisas ao redor e deixando a nossa contribuição para o legado cultural da humanidade.

Nós temos mais acesso a informação e por isto também queremos produzir conteúdos nas nossas áreas de interesse, conhecemos pessoas independente de tempo e espaço e participamos de uma rede de compartilhamento de ideias que aproximam cada vez mais as pessoas, diversas culturas e povos. Esta é nossa sociedade atual, a sociedade do conhecimento.

No entanto, estamos pagando um preço caro por não sabermos ainda qual a dosagem certa para o uso destas ferramentas… Precisamos descobrir a dosagem de cada um, e principalmente, a dosagem para as nossas crianças.

Digo isto porque sinto dificuldade em me desligar ultimamente. Sempre me pego pensando em algo, me preocupando em fazer algo ou deixando me contaminar com aquele sentimento de que descansar é perca de tempo. E pelas conversas que tenho com alguns amigos, eu não sou a única com esta vontade de ficar online a todo tempo, não é verdade?!

No meio deste turbilhão de pensamentos e sentimentos sempre estou com o meu celular plugado, buscando a ilusória sensação que mesmo meus amigos estando longe eu consigo acompanhar pelas redes sociais os principais momentos da vida deles  e por isto estamos próximos. Ledo engano.

A vida é movimento. As coisas mudam, as pessoas mudam, você muda. E estas mudanças não conseguimos perceber, e principalmente entender, se não caminhamos lado a lado das pessoas, usando todos os nossos sentidos, não somente os olhos e ouvidos pelas ferramentas da internet. E nossas crianças precisam aprender isto desde a mais tenra idade.

Todas estas percepções sobre quanto tempo tenho dispensando nas redes sociais e quais os impactos deste investimento na forma de me relacionar com o mundo afloraram quando comecei a ler o livro Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso, por Daniel Goleman, o mesmo autor de Inteligência emocional.

Segundo o autor, estamos perdendo a habilidade de ter foco, um empobrecimento da nossa atenção. O nosso foco é nossa realidade. Sem foco ou atenção nas coisas que estamos fazendo a nossa capacidade de aquisição da aprendizagem é reduzida e as nossas reflexões ficam cada vez mais superficiais.

A mente multifacetada que faz várias coisas ao mesmo tempo (lê o e-mail, atende o telefone, imprime o arquivo, conversa com o amigo do lado e ainda toma café) não tem seu foco em nada. Em busca de uma solução, muitos adultos estão buscando ajuda nos consultórios médicos atrás de remédios para déficit de atenção, os mesmos que estão sendo prescritos para as crianças que estão sofrendo do mesmo quadro.

Se o excesso no uso  novas tecnologias da comunicação e da informação criam em nós adultos a falta de atenção, a ilusão de que estamos próximos das pessoas sem estar realmente e a necessidade de viver online a todo momento, o que será que o excesso destas mesmas ferramentas tecnológicas tem feito com as nossas crianças?

Bom, sabemos que no mundo das novas tecnologias os mais queridos por muitas crianças são os jogo eletrônicos. Segundo Valdemar W. Setzer, no livro A Pedagogia Waldorf: caminho para um ensino mais humano, por Rudolf Lanz, levando em consideração o estado do corpo da criança ao jogar, a motivação que a leva a jogar e o prejuízo nos canais neurais causado pelo jogo, destacamos aqui os alguns pontos levantados pelo autor:

1 –  O jogo eletrônico desenvolve canais neurais anormais nas quais as funções visuais e motoras respondem praticamente somente aos estímulos induzidos no jogo. Já temos informações de crianças viciadas em jogo eletrônico que se comunicavam rapidamente, sem muito sentido e sem qualquer envolvimento emocional. Somos o que fazemos. De tanto mexer com um máquina, a  criança acaba se tornando uma máquina em suas atitudes.

2 – Crianças devem ser generalistas e não especialistas. Os jogos aceleram prematuramente o conhecimento em áreas específicas, não respeitando o desenvolvimento humano no momento certo de maturação.

3 – A maioria dos jogos eletrônicos incitam a competição pelo desejo de vencer para o vencer. Na contra mão de tudo isto, precisamos de uma educação “… para a consciência e sensibilidade social,  para a compaixão, para a responsabilidade, para a ação social e tolerância, para a dedicação pessoal em benefício ao universo.”

4 – O ser humano grava tudo que acontece em sua vida. Temos uma memória que guarda uma boa parte do que fazemos em  nosso inconsciente.Mesmo não conseguindo lembrar destas memórias elas estão lá. Assim a experiência de um jogo eletrônico também fica armazenado.

5 – A maioria dos jogos eletrônicos apresentam cenas de violência. As crianças são mais abertas aos impulsos do meio ambiente e por isto são mais afetadas por estes estados de violência.

6 – As crianças são incapazes de perceberem os malefícios dos jogos eletrônicos.

7 – As crianças aprendem brincando e imaginando, mas a TV e os jogos eletrônicos acabam não deixando espaço para a imaginação porque as imagens são prontas e muito rápidas.

8 -Existem brinquedos apropriados para cada fase do desenvolvimento e aprendizagem da criança. E este brinquedo devem ser simples de forma que a criança dentro de suas possibilidade de percepção possam compreende-los.

Para ilustrar o post de hoje trouxemos a obra de arte do Augusto, hoje com 13 anos e idade. Ele fez o desenho do personagem abaixo quando tinha 7 anos e o sonho dele é não é somente jogar vídeo games, mas fazer um jogo utilizando esse personagem que ele criou, o Washa.

Trouxemos esta experiência para demonstrar que ninguém é contra os jogos eletrônicos em geral, mas sim acreditamos que há um tempo certo para vivenciar a bela vida que nos é agraciada.

Que vivamos cada época da vida na sua medida, na sua essência!

Que deixemos as nossas crianças brincarem, desenharem, se sujarem no barro, tomarem banho na chuva,… Para sentirmos desde a mais tenra idade o que há de mais humano em nós, a oportunidade de nos afetarmos pelas coisas ao nosso redor através dos nossos sentidos. Liberdade no corpo, na alma, na fala, nas diversas formas de se expressar.

Que a internet e as novas tecnologias sejam formas de potencializar tudo isto, não um fim em si mesma, principalmente na infância.

Boneco Washa E o desenho que inspirou o boneco é…

desenho do boneco do Augusto

Muitas brincadeiras para todos nós!

Até a próxima arte!


Arquivado em:Guerreiros e Monstros Tagged: Boneco de Pano, brinquedos eletrônicos, Daniel Goleman, educação infantil, Foco, games, jogos eletrônicos, Pedagogia Waldorf

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